Animais de sangue frio e a arte da termorregulação
Jacarés, assim como outros répteis, são conhecidos como animais de “sangue frio”. O termo popular se refere aos organismos ectotérmicos, ou seja, aqueles cuja temperatura corporal varia de acordo com o ambiente. Diferente dos mamíferos e aves (endotérmicos), que produzem calor interno constante, os ectotérmicos precisam de fontes externas, como o sol ou a água, para se aquecer ou se resfriar.
É aí que entra um comportamento curioso: o “gape”, quando o jacaré permanece de boca aberta por longos períodos. Esse gesto não é um aviso de ataque ou defesa na maioria das vezes, mas sim um mecanismo de resfriamento.
- Evaporação: Ao abrir a boca, eles aumentam a evaporação das superfícies úmidas da cavidade oral, ajudando a reduzir a temperatura da cabeça.
- Circulação e sensibilidade: A boca possui veias próximas à superfície e terminações nervosas sensíveis, funcionando como um radiador natural. O sangue circulante e a água da saliva permitem que o calor seja dissipado de forma eficiente, enquanto os nervos ajudam o animal a ajustar seu comportamento de acordo com a temperatura do ambiente.
No Pantanal, estudos com o jacaré-do-pantanal (Caiman yacare) mostram que esse comportamento é frequente durante o “basking behavior” (exposição ao sol para aquecimento). Quando o ar ambiente está mais quente que a água, eles recorrem ao gape para dissipar o excesso de calor.
Portanto, o famoso “bocejo” do jacaré é, na verdade, um ar-condicionado natural dos animais de sangue frio, uma forma engenhosa de sobreviver no clima extremo do Pantanal.



