
Na última década, a paisagem de Bonito, renomado município turístico de Mato Grosso do Sul, vem sofrendo uma transformação significativa: o aumento vertiginoso das áreas de cultivo de soja tem alterado não apenas a economia local, mas também o delicado equilíbrio ambiental da região. Esta mudança foi recentemente destacada por um estudo alarmante da Fundação Neotrópica do Brasil, que revelou a presença de agrotóxicos em cursos d’água que até então eram considerados intocados.
O levantamento, realizado ao longo de 1985 a 2022, segundo o Campo Grande News, identificou quatro tipos distintos de agrotóxicos nos rios de Bonito. No Rio Formoso, conhecido por suas águas verde-azuis cristalinas, foi detectada a presença de simazina, enquanto o Rio Verde apresentou vestígios de tiametoxan. O Córrego Bonito, que atravessa a área urbana e deságua no Rio Formoso, revelou a presença de fipronil e carbendazim. Esses resultados, segundo especialistas, indicam uma contaminação que pode comprometer não apenas a fauna e flora aquáticas, mas também a saúde pública.
Diante da gravidade do cenário, o Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comdema) convocou uma reunião extraordinária para o próximo dia 26, em que serão apresentados os detalhes do estudo da Fundação Neotrópica e discutidas medidas emergenciais para mitigar os impactos ambientais e de saúde associados ao uso intensivo de agrotóxicos na região.
A expansão da sojicultura tem sido o motor dessa transformação. Entre as safras de 2019/2020 e 2022/2023, a área cultivada com soja em Bonito aumentou em impressionantes 26%, alcançando 70.430 hectares na última safra. Esse crescimento não apenas impulsiona a economia local, contribuindo com bilhões de dólares para a balança de exportações de Mato Grosso do Sul, mas também levanta preocupações sérias sobre os impactos ambientais, especialmente em um ecossistema cárstico tão sensível como o da Serra da Bodoquena.
A combinação do ambiente cárstico, caracterizado por formações como cavernas, dolinas e abismos, com o uso intensivo de agrotóxicos representa um desafio ambiental único. O solo frágil da região, mais suscetível a processos de erosão e lixiviação, pode potencializar a contaminação dos recursos hídricos e comprometer a qualidade das águas que são não apenas vitais para a biodiversidade local, mas também para o turismo, setor crucial na economia de Bonito.