No coração do Pantanal brasileiro, vive uma das aves mais enigmáticas da fauna sul-americana: o urutau (Nyctibius griseus), também chamado de mãe-da-lua. Conhecido por seu canto melancólico e por sua camuflagem quase perfeita, o urutau encanta pesquisadores, observadores de aves e místicos por igual.
Com plumagem acinzentada e postura imóvel, essa ave noturna se confunde com galhos secos e troncos — um disfarce tão eficaz que a torna quase invisível durante o dia. O comportamento deu à espécie o apelido de “ave fantasma”, e sua aparência inspirou diversas lendas populares que associam seu canto a espíritos ou presságios.
Camuflagem perfeita e canto assustador
Durante o dia, o urutau permanece imóvel, de olhos semicerrados, empoleirado em locais como estacas de cercas ou galhos secos. Ao anoitecer, entra em ação: com sua grande boca em forma de fenda, captura insetos noturnos como mariposas e besouros em pleno voo.
O canto do urutau é profundo e triste, ecoando como um lamento pelas noites pantaneiras. O som já inspirou mitos sobre almas penadas ou mães chorando por filhotes perdidos — elementos que reforçam seu papel como figura mística no imaginário popular.
Esse registro é de Fagner Almeida, na Fazenda Caiman(Pantanal Sul). Veja:
Habitat e importância ecológica
O Pantanal oferece o ambiente perfeito para o urutau: áreas abertas com árvores isoladas, brejos e campos. A presença da espécie é indicativo de um ecossistema saudável e equilibrado. Apesar da aparência exótica e comportamento reservado, o urutau não representa perigo algum ao ser humano — e, na verdade, é um aliado natural no controle de insetos.
Sua observação é rara, mas inesquecível. Para quem tem a sorte de vê-lo, é como descobrir um segredo da natureza escondido a céu aberto.
Muito além de uma ave misteriosa
O urutau é mais que uma ave: é símbolo da riqueza ecológica e cultural do Pantanal. Sua existência silenciosa nos lembra da complexidade e da beleza da biodiversidade brasileira. Ver — ou ouvir — um urutau é um convite à contemplação e ao respeito pela natureza.
Foto: Fagner Almeida