Fofa? Com certeza. Mas por trás da aparência encantadora, a ariranha (Pteronura brasiliensis) esconde uma das personalidades mais marcantes da fauna das águas doces do Brasil. Ágil, barulhenta e incrivelmente social, ela é uma espécie que mistura charme e selvageria em igual medida — um verdadeiro símbolo das margens alagadas e dos rios do Pantanal, da Amazônia e do Cerrado.
Com corpo alongado, pelagem densa e nadadeiras poderosas, a ariranha nada como uma flecha — veloz, precisa e determinada. Seu cardápio predileto inclui peixes como a piranha, que ela caça com habilidade impressionante. Em grupo, é praticamente imbatível. Vive em famílias organizadas, com uma estrutura matriarcal forte, onde a colaboração e a comunicação vocal constante garantem proteção e sucesso na caça.
Dona de um vocabulário próprio de vocalizações altas e variadas, a ariranha alerta o grupo de perigos, defende o território com garras afiadas e não hesita em enfrentar ameaças, incluindo jacarés e, ocasionalmente, até onças. É uma protagonista nata dos rios — uma espécie que combina comportamento cooperativo, inteligência e instinto de sobrevivência.
Mais do que um animal curioso, a ariranha representa a alma selvagem dos ecossistemas aquáticos brasileiros. Brincalhona e afetuosa com os seus, feroz com invasores, ela mostra que a natureza é feita de contrastes: delicadeza e força, sociabilidade e instinto, beleza e bravura.
Contudo, encontrá-la em seu habitat natural é uma experiência rara e memorável. E mais do que admiração, ela inspira respeito — afinal, estamos diante de uma verdadeira guardiã dos rios.
Fotos: @journey_with_jaguars / Octavio Campos Salles