
Uma denúncia protocolada em dezembro de 2024 nos Ministérios Públicos Federal (MPF) e Estadual de Mato Grosso do Sul (MPE-MS) acusa a ONG ambientalista Ecotrópica de estar envolvida em um esquema de grilagem de terras públicas e privadas no Pantanal. Segundo o empresário e proprietário rural Bruno Teixeira Canabrava, a ONG estaria utilizando documentos fraudulentos para obter grandes lucros com a venda de Títulos de Cota de Reserva Ambiental (TCRA), um mecanismo legal que permite a compensação ambiental para produtores rurais que desmatam acima do permitido.
A denúncia, formalizada pelo advogado e ambientalista Nelson Araújo Filho, aponta que a Ecotrópica, sob a gestão do ex-policial militar Angelo Rabelo, teria se apropriado de cerca de 5 mil hectares de terras, tanto privadas quanto da União, para incorporá-las às fazendas Penha e Acurizal, da própria ONG. Segundo Araújo, a grilagem não envolve a ocupação física das áreas, mas o uso de documentos de georreferenciamento emitidos pelo Incra, seguidos pela obtenção dos TCRAs do Imasul, que seriam vendidos a produtores rurais em outras regiões do país, que então evitariam a obrigação de reflorestar suas terras.
Os TCRAs, vendidos por aproximadamente R$ 2 mil por hectare, são uma forma legal de compensação para quem desmatou além do permitido. No entanto, o advogado denuncia que a Ecotrópica estaria vendendo esses títulos a um preço abaixo do mercado, por não ter investimentos ou custos para adquirir as terras de fato, prejudicando outros produtores que mantêm propriedades no Pantanal. Araújo estima que a ONG tenha faturado cerca de R$ 10 milhões com a venda de títulos de terras que não seriam suas.
A denúncia foi também encaminhada ao Incra e ao Imasul, órgãos responsáveis pela emissão dos documentos de georreferenciamento e dos títulos ambientais. A suspeita é de que haja conivência de servidores desses órgãos, já que, segundo Araújo, o Incra não cometeria erros grosseiros ao registrar terras no Pantanal sem uma fiscalização rigorosa.
O Instituto Homem Pantaneiro (IHP), presidido por Rabelo, é uma das principais organizações ambientais do estado e, conforme divulgado pela ONG, tem parcerias com a Ecotrópica para a gestão de áreas de conservação. No entanto, a denúncia coloca em dúvida a transparência dessas parcerias, considerando as acusações de grilagem e venda ilegal de títulos ambientais.
Em resposta à denúncia, o IHP negou qualquer envolvimento no esquema de grilagem e reiterou que é uma instituição reconhecida pela sua atuação em favor da conservação do Pantanal. A ONG afirmou que as parcerias com a Ecotrópica são realizadas com base em contratos regulamentados e que o trabalho realizado é focado em pesquisa científica e preservação ambiental.
A denúncia surge em um momento de crescente reconhecimento de Rabelo no cenário nacional, após ser homenageado no programa “Melhores do Ano”, da TV Globo, em 2024, por suas ações em prol da proteção do Pantanal. Apesar da premiação, a acusação levanta sérias dúvidas sobre a atuação de algumas entidades ambientais na região.
Fonte: Correio do Estado