Ameaçado de extinção, cascudo é encontrado em caverna de Bonito

Leandro Melo

Durante uma expedição pioneira entre o Bioparque Pantanal e diversas instituições acadêmicas, pesquisadores avistaram uma espécie rara e criticamente ameaçada de extinção: o Ancistrus formoso, popularmente conhecido como cascudo-cego das cavernas. Este pequeno peixe, medindo apenas 10 centímetros de comprimento, foi observado nas profundezas das cavernas inundadas do rio Formoso, localizadas no município de Bonito, Mato Grosso do Sul.

O avistamento do cascudo-cego das cavernas é considerado um marco significativo para a conservação da biodiversidade na região. Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a espécie é endêmica do sistema de cavernas Formoso e Formosinho, o que significa que sua existência se limita a este ambiente específico, tornando-a particularmente vulnerável às alterações ambientais e à perda de habitat.

A expedição contou com a participação de especialistas do Bioparque Pantanal, Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), além do apoio técnico do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul).

Maria Fernanda Balestieri, diretora-geral do Bioparque Pantanal, destacou a importância do avistamento como um indicativo positivo da qualidade ambiental das cavernas. “O fato de encontrarmos o cascudo-cego das cavernas reforça a necessidade de proteger este habitat único. Estudos futuros serão fundamentais para entendermos melhor seus hábitos e necessidades, informações cruciais para desenvolvermos estratégias eficazes de conservação.”

A descoberta também ressalta o desafio e a complexidade envolvidos em expedições científicas em ambientes subterrâneos. Dr. Leandro Melo de Sousa, presidente da Sociedade Brasileira de Ictiologia, descreveu a espécie como enigmática, enfatizando a escassez de dados sobre sua ecologia. “O cascudo-cego das cavernas é um exemplo fascinante de adaptação ao ambiente subterrâneo, onde sua presença indica um ecossistema saudável e resiliente.”

Edmundo Dineli, biólogo e mestre em geografia, relembrou a complexidade das expedições anteriores para coleta da espécie, enfatizando a importância de treinamento especializado e planejamento meticuloso para acessar os habitats subaquáticos das cavernas alagadas.

A presença do cascudo-cego das cavernas não apenas sublinha a biodiversidade única das cavernas da região da Serra da Bodoquena, mas também reforça a necessidade de esforços contínuos de conservação. A professora Maria Elina Bichuette, da UFSCar, ressaltou a importância de estudos adicionais para entender a distribuição e o estado populacional da espécie, visando sua proteção efetiva.

O projeto Cascudos do Brasil, liderado pelo Bioparque Pantanal, surge como uma iniciativa crucial para a conservação de espécies ameaçadas como o cascudo-cego das cavernas. Com a colaboração de especialistas e o uso de tecnologias avançadas, o projeto visa não apenas preservar a biodiversidade local, mas também promover a conscientização sobre a importância dos ecossistemas aquáticos subterrâneos.

O achado do cascudo-cego das cavernas representa não apenas uma descoberta científica, mas também um lembrete da fragilidade e da beleza das espécies que habitam os sistemas aquáticos subterrâneos do Brasil. À medida que mais pesquisas são realizadas, espera-se que novas estratégias de conservação sejam desenvolvidas para garantir que esta e outras espécies raras não se percam para sempre.