2
Fale Conosco
  • domingo, 28 de abril de 2024 - Campo Grande MS

Estudo aponta que desmate do Pantanal reduz grupos do papagaio-verdadeiro

Um dos maiores abrigos sul-americanos do papagaio-verdadeiro é o Pantanal. Contudo, mesmo lá sua população está ameaçada por mudanças no bioma forçadas por ações humanas, tanto legais quanto criminosas. Em outras regiões, a espécie é uma grande vítima do tráfico para o mercado de animais de estimação.

A renovação de bandos da ave diminuiu 30% onde florestas e savanas foram removidas para a produção de grãos, como o arroz, ou substituídas por pastos exóticos para criação de gado. Os resultados são do mais longo estudo feito onde a espécie naturalmente vive, em partes do Brasil, Argentina, Bolívia e Paraguai.

“Os dados indicam que o desmatamento é o grande vilão responsável pela diminuição de jovens de papagaio-verdadeiro no sul do Pantanal”, descreve Gláucia Seixas, coordenadora do Projeto Papagaio-Verdadeiro (PPV) e autora principal do trabalho, publicado em junho na revista Plos One.

O esforço científico observou 791 ninhos ao longo de 22 anos, de 1997 a 2018, em fazendas de Miranda e Aquidauana, no Mato Grosso do Sul. A cobertura de árvores dos municípios caiu 5.980 km2 no período – área similar a do Distrito Federal – ou 27% de seus territórios somados. O avanço da agropecuária é o grande motor das perdas, mostra o MapBiomas.

Com menos árvores, o papagaio perde locais para fazer ninhos – ampliando cavidades naturais –, comer, se abrigar do mau tempo ou de predadores, como tucanos, corujas e gaviões, além de gatos silvestres, da irara e de outros mamíferos escaladores de árvores.

Outro fantasma sobre o destino da espécie é a mutação climática global. Estimativas científicas são de que a temperatura média do ar pode subir de 5ºC a 7ºC e de que as chuvas podem encolher severamente no Pantanal até o fim do século. Além disso, seca e incêndios ganham força no bioma, como mostrou ((o))eco.

“Neste cenário, secas consecutivas provavelmente terão um impacto negativo nas condições corporais dos adultos, determinando a redução do tamanho das ninhadas e diminuindo a capacidade dos pais de criar seus filhotes”, detalha o estudo veiculado pela Plos One, assinado pelo PPV e pela Embrapa Pantanal.

Flagelo do tráfico

O Brasil é o país mais rico do planeta em tipos de papagaios, araras e seus parentes. Das 69 espécies que temos, 22 vivem no Pantanal. Todavia, a grande família dos psitacídeos, nome científico do grupo, é globalmente ameaçada pelo tráfico. Adultos, filhotes e ovos são vítimas especialmente de mercados de ‘pets’, de animais de estimação.

Gláucia Seixas/PPV

A grande maioria dos espécimes traficados acaba em gaiolas no Brasil, sobretudo no Sudeste. O papagaio-verdadeiro vive em média 60 anos, mas pode chegar aos 80 anos. Ao mesmo tempo, a espécie não é uma vítima direta do tráfico internacional.

“É mais viável e lucrativo ‘lavar’ animais coletados na natureza em criadouros autorizados e vendê-los com ‘nota fiscal quente’ do que traficar diretamente para o Exterior. As pressões somadas de desmate, tráfico e caça poderão acabar com a espécie em certas regiões”, alerta Pavlenco, da SOS Fauna.

O papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) é “quase ameaçado” de extinção no país e em nível global, conforme a União Internacional para Conservação da Natureza (UICN). Entretanto, a continuidade das pressões humanas deveriam elevar a sua classificação geral de risco.

“Sua população global decresce, pois a situação é diferente e cada vez mais crítica nos diferentes biomas. A espécie deve ser alvo de avaliações constantes pelas autoridades ambientais nacionais e internacionais”, defende Gláucia Seixas, do PPV e doutora em Ecologia e Conservação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

Suporte humano

Troncos arrombados ou derrubados costumam mostrar que crias de papagaio-verdadeiro foram vítimas do tráfico. Os criminosos têm pressa e destroem inúmeros ninhos. As cavidades podem ter até 1 metro de profundidade e ocupar árvores de grande porte. Só no Mato Grosso do Sul, 11.500 filhotes foram apreendidos pela fiscalização nos últimos 33 anos.

Para oferecer mais espaços para sua reprodução, o projeto aposta desde 2019 em ninhos artificiais. Feitos quase sempre de madeira, ajudam variadas espécies que ficaram sem espaços naturais para procriar. “Os ninhos são instalados em locais seguros, como unidades de conservação, e propriedades rurais ‘Amigas dos Louros’. Foram patrocinados por pessoas físicas e jurídicas que aderiram à ‘Campanha Adote Um Ninho’, ligada ao Programa Papagaios do Brasil”, destaca Gláucia Seixas. O PPV também recebe doações.


Deixe um Comentário



Sobre Nós

The argument in favor of using filler text goes something like this: If you use arey real content in the Consulting Process anytime you reachtent.

Instagram