A ocorrência de lontras-neotropicais (Lontra longicaudis) leucísticas está se tornando mais frequente em Aquidauana, Mato Grosso do Sul. O fenômeno, antes considerado isolado, agora sugere um padrão genético que se espalha pela população local. Em novembro de 2024, um novo registro fotográfico reforçou essa evidência e levantou questões sobre o impacto dessa mutação rara na biodiversidade da região.
O que é o leucismo?
O leucismo é uma condição genética que causa a perda parcial da pigmentação da pele e da pelagem, diferindo do albinismo por não afetar os olhos e outras áreas sem pelos. No caso das lontras de Aquidauana, essa mutação resultou em indivíduos de coloração mais clara, contrastando com o padrão comum da espécie.
O primeiro registro de uma lontra leucística na região ocorreu em 2019, quando um exemplar de pelagem quase branca foi avistado. Na época, pesquisadores acreditavam tratar-se de um caso isolado. No entanto, novos avistamentos em 2022 e 2024 indicam que a mutação pode estar se tornando mais comum na população local.

Impactos e desafios para a população
A presença de múltiplas lontras leucísticas levanta questões sobre os efeitos da mutação na sobrevivência da espécie. Geralmente, a perda de pigmentação pode prejudicar a camuflagem e aumentar a vulnerabilidade a predadores. No entanto, as características ambientais de Aquidauana, como a turbidez das águas e a vegetação densa, parecem minimizar esse risco.
Segundo o bólogo Gabriel Brutti, a endogamia é um fator de preocupação. “Com uma população reduzida e isolada, a reprodução entre indivíduos aparentados pode diminuir a variabilidade genética e comprometer a saúde geral da espécie”, explica.
Contudo, outro ponto de atenção é a possibilidade de perda de adaptação local. Caso a mutação se torne predominante, a espécie pode enfrentar dificuldades em responder a desafios ambientais futuros, como mudanças climáticas ou novas pressões predatórias.
Monitoramento e conservação
A permanência do leucismo entre as lontras-neotropicais de Aquidauana destaca a importância do monitoramento contínuo da população. Pesquisadores enfatizam que a conservação dos habitats aquáticos, a qualidade da água e a proteção das matas ciliares são essenciais para garantir a sobrevivência da espécie.
Ameaças como poluição, desmatamento e caça ilegal ainda representam riscos significativos para as lontras da região. Por isso, o estudo desses indivíduos leucísticos pode contribuir para estratégias de conservação mais eficazes, garantindo o equilíbrio ecológico e a diversidade genética da espécie.
Fonte G1– João Bertuzzo, Terra da Gente
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