2
Fale Conosco
  • domingo, 28 de abril de 2024 - Campo Grande MS

Para evitar perda de gado, onças são atraídas para rios e perdem ‘essência’ de caçar no Pantanal

onça nadando

Foto por: Mayke Toscano/Secom-MT

A prisão recente e em flagrante de dois peões, acusados de receberem dinheiro para matarem onças no pantanal sul-mato-grossense, trouxe à tona uma investigação policial e a denúncia de que “os novos donos de terras” não querem ter prejuízo com “uma novilha sequer” e, por isso, estariam pagando funcionários para promoverem a matança ou o envenenamento de felinos, principalmente se algum gado da fazenda já foi abatido.

E o problema vai além: as onças, no ambiente delas e “na casa delas”, sem os abrigos que antes tinham e que se perderam com inúmeras áreas desmatadas, estariam recebendo todo tipo de alimento para permanecerem na beira dos rios e servirem de atrativo aos turistas que se instalam em hotéis fazenda no Pantanal e pagam caro para ver este animal.

Peões estariam recebendo ‘valor por cabeça’, diz denunciante

Segundo o jornal Mídiamax, a redação recebeu denúncias de pantaneiros nascidos e criados na região e que possuem muita experiência e contato com peões, os quais falam até em “valor por cabeça” que cada um recebe ao matar onças e assim “agradar o patrão”.

Neste caso mais recente, a Polícia Civil de Rio Verde inclusive instaurou inquérito e apura se há e quem seriam mandantes, ou seja, as pessoas que ordenaram os peões a mataram este tipo de animal.

“Estamos com a investigação em curso e testemunhas sendo ouvidas. Foi pedida a quebra de sigilo telefônico dos presos, o que foi deferido pelo judiciário e agora vamos verificar mensagens de texto, vídeos e todo conteúdo que tiver para corroborar com o que foi produzido até agora”, afirmou o delegado Edson Leandro Caetano dos Santos, responsável pelo inquérito.

No momento da prisão, segundo o delegado, os peões teriam confessado que receberam ordens dos patrões, já que as onças teriam matado bezerros da propriedade onde trabalham. No entanto, em depoimento formal, falaram que caçaram e mataram os animais por vontade própria.

Pena máxima por perseguir, matar e caçar onça é de um ano

“Os casos que estão acontecendo mostram a gravidade deste crime. Em abril houve a prisão de uma pessoa, a qual tinha um vídeo cortando a cabeça da onça, isso no pantanal do Mato Grosso. São casos em que a pena é ínfima, com dano irreparável ao meio ambiente. E a onça está no topo da cadeia alimentar, então, é algo seríssimo. Este crime, assim como o que envolveram a prisão dos dois homens aqui, incidem no artigo 29, que é matar, perseguir e caçar animais silvestres, com pena máxima de um ano”, argumentou Santos.

Um guia turístico de 56 anos, com quatro décadas de experiência trabalhando no pantanal e que ajudou a “nomear” 25 onças, fala que desde sempre ouviu histórias sobre a matança. Ele informou o nome e permitiu a publicação, porém, a reportagem decidiu preservá-lo.

“Já vi muita onça morta perto da carcaça de boi. Vi milhões de vezes. Só que não adianta fazer denúncia, porque os caras [donos das terras] tem dinheiro, então, não acontece nada. A represália fica em cima de quem fez a denúncia. Há muitos anos, mais de décadas isso, já ouvia histórias de patrão que pagava mil reais por onça morta. Tenho muito contato com peões, falo com eles direto”, afirmou o denunciante.

Na região do Abobral, conforme o guia, já foram flagradas onças envenenadas. “Já vi uma porção morta ali. Tinha a carniça, o resto de vaca lá e aí foi só andar um pouco e achamos a onça morta e até filhotes. E daí morre toda a cadeia, urubu, carcará, tudo envenenado também, então a gente vê tudo isso e não aceita. Ali no pantanal é a casa delas. Este tipo de coisa não pode acontecer e agora tem uns que querem retirar da beira do rio também. Eu não concordo. Ali elas ficam tranquilas e não atacam animais da fazenda”, disse.

Amante do Rio Miranda, o guia fala que leva, com muita frequência, turistas americanos e espanhóis para passearem de barco e avistarem animais silvestres. “Muito pescador profissional é orientado a limpar e largar a tripa ali na beira, daí as onças vão lá e comem. São mantidas ali na margem e ficam comendo esse resto de peixe. Mesmo assim, nunca houve ataque de onça, mesmo o pessoal dormindo nas proximidades. E enquanto preservadas, a população aumenta muito, como é o caso do Morro do Azeite. E esses dias estavam discutindo sobre transferir as onças. Eu acho errado. É um animal territorialista e, em cada região, tem o macho dominador”, afirmou.

‘Fazendeiro mandar matar onça é tradição antiga no Pantanal’, diz empresário

Um pantaneiro e empresário do turismo, que também não será identificado, diz que sempre ouviu histórias da matança de onças, mas, as denúncias pararam um tempo e voltaram a ocorrer recentemente. “Ainda mais agora, nesta situação financeira, com a novilha valendo entre 3 a 4 mil reais. Eu nasci e cresci nas fazendas do Pantanal. Só me distanciei um tempo para estudar e agora voltaram a falar da matança e que também estão cevando as onças na beira do rio para os turistas ficarem vendo e tirando foto. De todo lado, todo mundo só almeja o lucro”, opinou o denunciante ao Jornal Midiamax.

De acordo com o denunciante, o ir e vir destes felinos, na beira do rio, sempre ocorreu quando iam tomar água e também caçar jacarés, mas, ultimamente estão permanecendo porque encontram comida. “Assim, perdem a essência de caçar, de buscar o alimento. O que precisa ser mostrado é o turismo natural e não algo forçado como alguns locais estão fazendo. Outra coisa necessária são placas. Falo com turistas, eles até acham estranho não ter nada, porque é bem diferente dos locais que conhecem no exterior”, comentou.

Outro guia turístico, com 23 anos de experiência no pantanal sul-mato-grossense, fala que alguns fazendeiros compram venenos e orientam peões a matarem as onças, quando encontram vacas mortas. “Este ano eu ainda não vi nenhuma. Mas, eu acredito que isso tudo parou porque muita gente ameaçou de denunciar, de avisar a polícia. No ano de 2017, lembro que um grupo tirou fotos de onça morta e chegou a entregar para as autoridades”, comentou.

Segundo o denunciante, o desmatamento também é algo prejudicial para estes animais. “O fazendeiro tem ali um campo aberto, em que consegue monitorar até as onças. E esta é uma cultura nova no pantanal, de meter trator, correntão e gradear tudo. É uma interferência na natureza tremenda”, lamentou. (fonte: Mídiamax)


Deixe um Comentário



Sobre Nós

The argument in favor of using filler text goes something like this: If you use arey real content in the Consulting Process anytime you reachtent.

Instagram