Rio Formoso está cada vez mais turvo e preocupa ambientalistas em Mato Grosso do Sul
A fama internacional das águas cristalinas do Rio Formoso em Bonito está ameaçada. O curso d’água está ficando turvo, como mostram as imagens, o que preocupa ambientalistas e ameaça o ecossistema da região.
A ambientalista Débora Calheiros explica que é comum os rios da região ficarem turvos após grandes chuvas. Justamente por sua cor cristalina, qualquer resíduo se torna muito aparente. Contudo, os resíduos sólidos tingem a cor esverdeada de marrom com cada vez mais frequência. Débora é pesquisadora da Embrapa do MPF (Ministério Público Federal) e atualmente ajuda a escrever um livro com informações da bacia do Rio Miranda e Aquidauana.
“Uma vez ou outra, em uma grande chuva, como era no passado é normal, mas isso vem acontecendo várias vezes entre outubro a março, que é o período de chuva, e é problemático. A luz não entra na água e aí não tem fotossíntese das algas, das plantas aquáticas. Os peixes também são afetados, claro que depende da frequência, mas com certeza um peixe que está acostumado com águas límpidas tendem a sair dali e procurar águas mais límpidas. Pode começar a ter entupimentos também das guelras com a areia, com o solo”, explicou.
O prefeito da cidade, Josmail Rodrigues (PSB), alega que o rio está sendo poluído e retratou o cenário nesta quarta-feira (25). Ele disse que já acionou o MPE (Ministério Público Estadual), PMA (Polícia Militar Ambiental) e Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul).
“Acabei de passar para a promotoria pública tudo isso, mais para cima (do Rio) está limpa a água. Já tem denúncia, mas vou reforçar, se não vai acabar com nosso rio lá”, relatou.
O Campo Grande News já havia noticiado a situação preocupante do Rio Formoso em dezembro do ano passado. Na época, constavam nos arquivos do MPE pelo menos três inquéritos sobre denúncias contra o dono de uma fazenda. Dois deles resultaram em ação judicial e o último, relativo à construção irregular de empreendimento no espaço, foi arquivado.
Situação alarmante – Débora Calheiros também ressalta que as fazendas da região entre Bonito e Bodoquena mudaram o comportamento recentemente, trocando a criação de gado para a plantação de soja.
Com a passagem do maquinário agrícola pelas estradas vicinais que ficam perto dos rios, a terra fica cada vez mais batida e quando chove, a água escoa com mais facilidade para às margens.
“A questão é muito séria, é preciso tomar decisões emergenciais para conter essa perda de solo, que também é um patrimônio, assim como a água. A questão é grave. A entrada de partículas na água leva fertilizantes e agrotóxicos para a água, e a quantidade que se usa em plantação de grãos é muito grande. Se não tomarem nenhuma atitude, vai acabar acabar essa beleza de Bonito, Jardim, Bodoquena”, apontou.
O turismo também é outra área afetada pela poluição dos rios, preocupação de quem depende da renda hoteleira para sobreviver. Uma das soluções apontadas pela ambientalista é aumentar a área das APP (Área de Preservação Permanentes), que são as regiões protegidas por lei nas margens dos rios.
“É uma questão fundamental aumentar as áreas de APP, as áreas de preservação de mata ciliar a ser conservada. Não deixar o gado beber diretamente dos córregos e dos rios, porque eles pisoteiam em direção ao rio formando uma trilha e a tendência da água correr por ali. É mais uma fonte de levar o material do solo para dentro da água”, afirmou Débora.
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