A Rota Bioceânica já tem movimentado o setor de turismo ao longo dos 2.396 quilômetros, que vai ligar o Oceano Atlântico aos portos de Antofagasta e Iquique, no Chile, passando por Paraguai e Argentina. Mais do que um potencial econômico, o corredor logístico irá transportar turistas da maior planície alagada do Planeta, o Pantanal, até o deserto mais alto do mundo, o do Atacama, no Chile.
A ponte sobre o Rio Paraguai, entre Porto Murtinho e Carmelo Peralta, deve ser concluída até o final de 2024. Mas já tem expedições mapeando as cidades que ficam entre cenários cinematográficos, passando por um salar, vulcões, passeios noturnos para ver a Via Lactea e até mesmo neve.
O empresário Rider Soares, de 29 anos, está com um escritório montado em Porto Murtinho vislumbrando ser pioneiro no ramo de pacotes turísticos para quem deseja cortar a América Latina de leste a oeste no novo trajeto.
Nos últimos dois anos ele estudou o roteiro e planejou a viagem com uma de suas vans. “Vi que asfaltaram uma parte do Paraguai e acabei fazendo o trajeto até o Chile, para criar o roteiro turístico”, conta. O grupo com nove pessoas saiu de Campo Grande no dia 17 de fevereiro e retornou no dia 27.
A expectativa era ver como estava a rodovia e a estrutura das cidades que fazem parte do corredor rodoviário. O grupo dormiu em Porto Murtinho, porque até a conclusão da ponte apenas uma balsa faz a passagem sobre o rio, com horários específicos. Para atravessar uma van o valor cobrado foi de R$ 220. O percurso permite ao viajante contemplar as belezas do Chaco, o Pantanal paraguaio em plena época de cheia.
Os primeiros quilômetros dentro do Paraguai já estão asfaltados. Mas o percurso de Mariscal Estigarriba até Tartagal, a divisa com a Argentina, são 130 km de estrada de chão. “Essa foi a parte mais cansativa da viagem. Ainda não tem uma infraestrutura básica voltada para o turismo e há pouco movimento na estrada. No entanto, todos os postos de combustível tinham gasolina e boas condições de atendimento”.
Todos foram surpreendidos ao chegar no domingo de Carnaval, em Jujuy, na Argentina, e encontrar a cidade mobilizada com a folia. “Tentamos reservar hotel com 15 dias de antecedência e não conseguimos achar. Descobrimos que lá acontece um Carnaval tradicional Inca. As pessoas se vestem de monstro e tem todo um ritual inca, que lota a cidade. Ficamos encantados”. O grupo teve que dormir 90 km para frente, na vila de Pumamarca, uma cidade muito bem estruturada para receber visitantes.
A pequena cidade é parada obrigatória para quem vai fazer uma roadtrip pela América do Sul. Seu cartão-postal principal é o famoso ‘Cerro Siete Colores’, as montanhas coloridas ficam em meio a um cenário de deserto. Durante três dias a expedição explorou a região e registrou imagens incríveis que mais parecem ‘de outro mundo’, segundo Rider.
Seguindo a rota sentido San Pedro do Atacama, já na região de Antofagasta, onde fica um dos portos para o Oceano Pacífico, no Chile, os viajantes são convidados a passar por cima das cordilheiras dos Andes, a mais de 4,6 mil metros de altura e avistar vulcões com picos nevados. Um salar entre a divisa da Argentina com Chile, além do maior deserto da América Latina dividem o encantamento com o povo do local, com uma rica cultura dos povos Tiwanaku e Inca.
“Essa é uma região 100% voltada para o turismo. Tanto que fomos super bem recebidos por uma equipe do prefeito e secretaria de turismo. Fizeram questão de explicar sobre o turismo local, suas culturas e mostraram as redes hoteleiras e gastronômico”, revela ressaltando o interesse dos países vizinhos em fomentar o turismo na Rota Bioceânica.
Por conta das fortes chuvas na região, o grupo que foi preparado até mesmo com balão de oxigênio (que não foi necessário usar), decidiu não chegar até o destino final, em Antofagasta, e retornar até Mato Grosso do Sul. Segundo Rider, a viagem é bonita do início ao fim, com destaque à simplicidade e aconchego para as vilas no meio dos desertos.
“Essa rota me surpreendeu muito. A cultura, a comida, é totalmente diferente, com paisagens de cenário de filme. É maravilhoso, você fica encantando. O deserto é impressionante. A coisa mais linda do mundo. Transitar pela rodovia que você vê de um lado lhamas em um lugar que você acha que não tem vida, mas tá repleto de plantas e aves, com lagos azuis. Fazem hotéis em casas de barro, que você se sente mais aconchegante do que em resorts luxuosos”, revela.
Para viajar o grupo saiu do Brasil com as moedas trocadas de cada país. Ao todo, foram investidos cerca de R$ 2,5 mil a R$ 3 mil por pessoa, para todo os dez dias. A expectativa é que nos próximos meses a primeira excursão paga sai de Mato Grosso do Sul, desbravando as rodovias da América Latina. (com Campo Grande News)