Jatobazinho: da escola pantaneira à libertação na Argentina
No ano de 2018, um evento extraordinário surpreendeu funcionários e alunos da Escola Pantaneira Jatobazinho, localizada no coração do Pantanal, próximo ao rio Paraguai, em Corumbá. Um filhote de onça-pintada, batizado posteriormente como Jatobazinho em homenagem à escola, foi encontrado no pátio da instituição, aparentemente machucado. Esse encontro marcante desencadeou uma série de eventos que, ao longo de quatro anos, transformaram a vida do filhote e contribuíram para a preservação da espécie.
O filhote, inicialmente debilitado e pesando apenas 35 quilos, abaixo do ideal, foi resgatado pela Polícia Militar Ambiental e encaminhado para o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras) em Campo Grande, MS. Lá, sob os cuidados de dedicados pesquisadores, Jatobazinho recebeu tratamento, medicamentos e uma dieta reforçada, alcançando rapidamente o dobro do peso esperado em três meses, atingindo impressionantes 73,7 quilos.
Em uma nova fase, o felino foi transferido para o centro de treinamento Onçafari, em Miranda, MS, onde teve a oportunidade de desenvolver seus instintos selvagens e readquirir a capacidade de se defender por conta própria. Após esse processo de recuperação e adaptação a diferentes ambientes, Jatobazinho ganhou a liberdade definitiva no Parque Nacional de Ibirá, no norte da Argentina, mais de um ano atrás.
O Diretor de Conservação da Fundación Rewilding Argentina, Sebastián di Martino, destaca a importância de Jatobazinho para a preservação da onça-pintada. O felino tornou-se um símbolo de colaboração entre países, representando o primeiro projeto de reintrodução da espécie em nível mundial. Sebastián enfatiza que a reintrodução de uma onça-pintada na província argentina de Corrientes só foi possível graças à colaboração entre Argentina e Brasil, um feito que marca mais de 10 anos de trabalho conjunto entre especialistas de ambos os países.
O Projeto Ibirá, desenvolvido pela Fundação Rewilding, tem como objetivo reintroduzir a onça-pintada em locais onde a espécie foi extinta. Sebastián ressalta que Jatobazinho, com sua boa genética oriunda do Pantanal, desfruta agora de uma vida adulta na Argentina, contribuindo para o crescimento da população de onças-pintadas na região. Este macho “varão” domina várias fêmeas, deixando uma descendência que contribui para a restauração da fauna e a preservação da espécie.
A história de Jatobazinho, desde o dia em que foi encontrado acuado no pátio de uma escola até se tornar um líder reprodutor na Argentina, destaca não apenas a resiliência individual do felino, mas também a importância da cooperação internacional na conservação da biodiversidade. Jatobazinho é um símbolo vivo da harmonia entre o Brasil e a Argentina na busca pela preservação das espécies ameaçadas e pela restauração dos ecossistemas naturais.