A pesquisa inédita realizada pelo Médico Veterinário Paul Raad, idealizador do Instituto Impacto no Pantanal mato-grossense, vem chamando atenção nas redes sociais. O projeto desenvolveu com sucesso uma técnica totalmente não invasiva para estudar as onças-pintadas (Panthera onca), evitando a captura ou o estresse dos animais. Utilizando tapetes de fibra sintética posicionados em pontos estratégicos da mata, os cientistas conseguiram coletar pelos de um macho da espécie e realizar análises genéticas, químicas e isotópicas detalhadas.
A iniciativa, coordenada por pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista), foi conduzida entre outubro e novembro de 2023 em parceria com a Pousada Piuval, em Poconé (Mato Grosso), local onde vivem esses felinos, como o caso da Onça Nina.
O projeto instalou tapetes pretos do tipo “Riga” (40×60 cm) em locais identificados como rotas frequentes de onças, com o auxílio de armadilhas fotográficas para monitoramento por 30 dias. Sempre que uma onça interagia com o tapete e deixava pelos, o material era recolhido com rigorosos cuidados de higiene e enviado para análise.
Resultados precisos sem estresse animal
Foram coletadas sete amostras de pelos — cada uma com aproximadamente 500 fios — de um único exemplar macho. Posteriormente, o material foi submetido a testes de:
- Microscopia eletrônica: comprovou que os pelos estavam em perfeito estado, permitindo identificação clara das estruturas de cutícula e córtex, essenciais para estudos morfológicos.
- Análise molecular: os testes de DNA, usando o gene da amelogenina, confirmaram o sexo do animal como macho, reforçando a confiabilidade do método genético.
- Análise de metais pesados: identificou concentrações relevantes de elementos como cádmio (9,3 µg/g), manganês (66,2 µg/g) e zinco (155 µg/g). O cádmio e o manganês apresentaram níveis acima da média em comparação com cabelos humanos, sugerindo exposição ambiental — possivelmente oriunda de fungicidas ou contaminações por mineração.
- Isótopos estáveis: permitiram inferir aspectos da dieta e ecologia do animal. O carbono orgânico total foi de 45,81% e o nitrogênio total, de 12,38%, com valores isotópicos compatíveis com a alimentação carnívora de alto nível trófico.

Avanço para a conservação de grandes felinos
A técnica proposta representa um avanço significativo no estudo de espécies ameaçadas. A onça-pintada, classificada como “quase ameaçada” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), mas esta com população quase em declínio. O Pantanal abriga uma das maiores concentrações do felino nas Américas, e métodos que evitem a captura física se tornam essenciais para sua preservação.
Além disso, de evitar o estresse dos animais, a metodologia é eficaz para estudos de poluição ambiental, saúde animal e dieta. Tudo a partir de uma pequena quantidade de pelos, sem alterar o comportamento natural da fauna.
Próximos passos
Por fim, com os resultados promissores, os pesquisadores pretendem ampliar o uso da técnica para outros mamíferos da região. Dessa forma, aplicando os dados na construção de políticas públicas de conservação e monitoramento ambiental.