O bioma do Pantanal, reconhecido como a maior planície alagável do planeta, atravessa uma crise sem precedentes. Segundo um levantamento recente do MapBiomas, entre 1985 e 2024, a área permanentemente alagada caiu de 1,6 milhão para cerca de 460 mil hectares, uma redução de 75%.
Essa retração dramática, aliada à tendência de enchentes cada vez mais fracas ao longo das décadas, revela um alto grau de comprometimento no ciclo natural entre cheias e secas. Para alguns especialistas, esse cenário já configura uma das piores secas dos últimos 40 anos no Pantanal.
Origens e causas da crise
Há um elo direto entre esse colapso hídrico do Pantanal e a degradação no Planalto da Bacia do Alto Paraguai, região de onde nascem os rios que alimentam o Pantanal. No planalto, o avanço do agronegócio (como a expansão de soja e pastagens) vem destruindo vegetação nativa, reduzindo a capacidade de infiltração das águas e agravando a seca.
Além disso, a pecuária já ocupa uma parcela muito grande da planície pantaneira, com pastagens degradadas e solo pouco capaz de reter umidade. A mineração, por sua vez, cresceu consideravelmente na última década. Esses fatores combinados aceleram um processo que pode ser descrito, em parte, como desertificação local, alterando profundamente o comportamento hídrico do bioma.
Consequências para a biodiversidade e a sociedade
Se essa tendência persistir, os riscos são múltiplos:
- Perda de biodiversidade: muitas espécies dependem do ciclo de cheias para se alimentar, se reproduzir e migrar. A redução das áreas alagadas ameaça esse equilíbrio.
- Colapso hídrico: a capacidade natural do bioma de regular o fluxo de água pode ser comprometida, afetando rios, lençóis freáticos e, consequentemente, a oferta de água doce.
- Impactos econômicos: comunidades que vivem no Pantanal dependem da navegação, da pesca, da pecuária e de outras atividades ligadas à água. A seca extrema põe tudo isso em risco.
- Transformação territorial: o uso intensivo do solo, para pastagens, agricultura e mineração, contribui para um bioma cada vez mais antropizado, segundo o relatório do MapBiomas.
Perguntas urgentes
Diante desse cenário alarmante, surgem algumas questões cruciais:
- Qual é a responsabilidade das políticas públicas?
Até que ponto o Estado tem agido para conter a expansão insustentável do agronegócio e da mineração no Planalto da Bacia do Alto Paraguai? Há incentivos para práticas mais sustentáveis? - É possível restaurar o Pantanal?
Que medidas técnicas poderiam ser adotadas para reverter parte da degradação? Seriam reflorestamentos, criação de corredores de infiltração de água, restrições ao uso da terra? - Como equilibrar desenvolvimento e conservação?
Muitas pessoas dependem economicamente da pecuária, mas esse modelo tem contribuído para a seca. Como conciliar estratégias de produção agropecuária com preservação ecológica? - Qual é o papel das comunidades locais?
Comunidades pantaneiras tradicionais têm vivido as consequências da seca. Elas estão sendo incluídas nos planos de recuperação? Têm voz nas decisões? - Como o Brasil se posiciona no cenário climático global?
Essas mudanças no Pantanal são um reflexo local de tendências globais, como o aquecimento climático. Há articulação para que o Brasil atue de forma mais proativa em compromissos ambientais?
Considerações finais
A seca histórica no Pantanal não é apenas um alerta ecológico: é um sinal de que o equilíbrio natural está sendo profundamente alterado por ações humanas. Se nada for feito, o bioma corre o risco de perder não apenas suas áreas alagadas, mas também sua vocação como regulador hídrico e ecológico. A urgência de repensar o uso do solo, fortalecer políticas ambientais e envolver as comunidades locais é cada vez maior.
Portal Pantanal Oficial
Foto: Divulgação Ecoa



