O Pantanal, maior planície alagável do planeta, enfrenta uma crise hídrica sem precedentes. De acordo com o MapBiomas Água, o bioma foi o que mais perdeu superfície aquática no Brasil em relação à média histórica: uma redução de 61%. O levantamento mostra que, entre 1985 e 2024, o bioma passou de extensas áreas inundadas a um cenário de seca prolongada, com tendência de agravamento nos últimos anos.
Em 2024, a cobertura aquática do Pantanal foi de 17,9 milhões de hectares, cerca de 4% abaixo da média histórica e 2% menor que no ano anterior. Em todos os meses do ano passado, a extensão de água permaneceu abaixo da média registrada nas últimas quatro décadas. Desde 2009, o bioma apresenta uma trajetória de retração contínua, e apenas 2022 registrou índices acima da média.
O estudo revela que oito dos dez anos mais secos da série histórica ocorreram na última década, evidenciando o agravamento da estiagem e a intensificação dos eventos climáticos extremos. A última cheia significativa foi registrada em 2018. Desde então, o Pantanal convive com longos períodos de seca, o que tem alterado a dinâmica natural do regime de cheias e secas que define o bioma.
Além de comprometer a biodiversidade, a escassez de água impacta diretamente a subsistência das comunidades pantaneiras, que dependem das cheias para a pesca, a pecuária tradicional e o turismo ecológico. A redução das áreas alagadas também aumenta o risco e a intensidade dos incêndios florestais, já que a vegetação seca e o acúmulo de matéria orgânica servem como combustível natural para o fogo.

Enquanto biomas como a Amazônia e o Cerrado também apresentaram retrações hídricas, o Pantanal foi o mais afetado proporcionalmente.
A perda de corpos d’água naturais, lagoas, baías e corixos, ameaça o equilíbrio ecológico e o ciclo de reprodução de diversas espécies emblemáticas, como peixes, aves e mamíferos aquáticos.
O levantamento reforça a urgência de políticas públicas voltadas à gestão integrada das águas, com foco na restauração de nascentes, margens e fluxos naturais que alimentam o bioma. A manutenção das áreas úmidas é considerada essencial para a sobrevivência do Pantanal e para a regulação climática de toda a Bacia do Alto Paraguai.