Nos últimos meses, registros de felinos em zonas urbanas de Mato Grosso do Sul e outros estados, têm alimentado o debate sobre uma possível alteração no comportamento natural dessas espécies. No entanto, especialistas que acompanham a fauna pantaneira reforçam que a presença de onças-pintadas e outros grandes felinos próximos a áreas habitadas não representa, necessariamente, um desequilíbrio ambiental.
Caso Jorginho ainda sob investigação
A maior parte das aparições recentes ocorreu após o ataque fatal a Jorge Ávalo, trabalhador rural de 60 anos, no Pantanal sul-mato-grossense. Desde então, vídeos de onças em chácaras e cidades passaram a circular com frequência nas redes sociais.
A onça (foto acima) foi capturada e levada para o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) em Campo Grande(MS).
Mas o que apontam os pesquisadores?
Para biólogos e conservacionistas, isso não indica aumento nos conflitos, mas sim um reflexo da maior vigilância social. Gustavo Figueirôa, biólogo e diretor da SOS Pantanal:
“Acho que é muito imprudente conectar as duas coisas [desequilíbrio ambiental e ataque de felinos]. Os incêndios e as secas dos últimos anos com certeza causaram um grande desequilíbrio no Pantanal, mas aí a gente dizer que é isso que está causando esse aumento de ataques… até porque nem sabemos se é realmente um aumento. Estão sendo mais relatados, mas sempre tiveram…Essas situações estão sendo mais documentadas, todo mundo tem uma câmera em casa, um celular na mão, e consegue filmar isso, pegando imagens que antes não pegavam…”
Outros estudiosos apontam que a busca por água pode estar por trás da movimentação dos felinos. Com o ciclo das águas reduzido, animais precisam percorrer maiores distâncias para se hidratar, inclusive atravessando áreas com presença humana. Julio César de Souza, professor e pesquisador da UFMS de Aquidauana afirma:
“Os animais se movimentam por instinto. Às vezes eles vêm se movimentando de cabeça baixa e, quando se dão conta, estão dentro da cidade. E aí, procurando uma saída, eles seguem em frente e daqui a pouco estão no Centro. Estão andando à noite e, quando veem uma luz, podem ir atrás dela…O ciclo das águas do Pantanal tem sido baixo nos últimos anos e o que a gente percebe é que os animais buscam água. Então acredito que eles podem estar tendo que andar mais para achar água e isso pode provocar essa movimentação.”
Para pesquisadores que convivem com onças no dia a dia, como o biólogo e guia Fábio Paschoal, a espécie continua agindo dentro dos limites do instinto. Ele destaca que casos de violência são raríssimos e, muitas vezes, as reações humanas, como alimentação ou perseguição, acabam alterando a dinâmica natural. Fábio Paschoal, biólogo e guia de observação:
“Não tem nada de errado com as onças do Pantanal. É claro que o bioma está sofrendo muito com as queimadas, mas isso não faz as onças atacarem humanos. Por instinto, elas evitam seres humanos, aprenderam isso ao longo dos anos para salvar a própria vida, mas se o animal é alimentado, ele pode estar associando o ser humano à comida e isso é errado, é crime…”
Apesar da repercussão dos casos, os especialistas concordam que o foco deve estar em políticas públicas, orientações de segurança e ações de educação ambiental. Gustavo Figueirôa finaliza:
“Acho que a percepção das pessoas e da mídia como um todo ficou mais aguçada para esse tipo de conflito, que sempre existiu no Pantanal e vai continuar existindo. O que está levando a isso é que nós coexistimos com esses animais. Eles estão no ambiente deles e nós também vivemos no ambiente natural. Seres humanos e animais coexistem no mesmo ambiente, então é esperado que esses conflitos aconteçam…”
“Protocolos de segurança, educação ambiental e orientação à população são fundamentais para reduzir ao máximo esse tipo de ocorrência…”
Caro leitor, qual a sua opnião? 🐆
Foto: Saul Schramm/ GOV MS - Fonte: MidiaMax
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