No município de Alta Floresta (Mato Grosso), uma iniciativa inovadora tem chamado atenção: as primeiras travessias registradas do macaco-aranha-da-cara-preta (Ateles chamek) utilizando pontes artificiais de dossel instaladas para conectar fragmentos florestais isolados, reduzindo o risco de atropelamentos na área urbana.
Desde junho, os macacos-aranha passaram a usar com frequência essas estruturas, que permitem a locomoção segura entre áreas verdes fragmentadas. A imagem do animal cruzando tranquilamente a ponte, apoiando-se na cauda preênsil e nos longos braços, emocionou a equipe do projeto e a comunidade local.
O projeto “Alta Floresta Não Atropela”
As pontes de dossel fazem parte do programa “Alta Floresta Não Atropela”, desenvolvido pela Fundação Ecológica Cristalino em parceria com órgãos públicos e universidades locais. O objetivo principal é garantir segurança para a fauna arborícola e preservar a biodiversidade da região.
Entre outubro de 2024 e maio de 2025, foram registradas quase 4 mil travessias de primatas, abrangendo sete espécies diferentes, utilizando as pontes. Até julho de 2025, o painel de monitoramento contabilizou quase 3 mil travessias seguras.
A importância para a conservação
O macaco-aranha-da-cara-preta está classificado como “Em Perigo de Extinção”, devido à perda e fragmentação do seu habitat, além da caça e da expansão da malha viária. A criação dessas travessias é fundamental para sua sobrevivência.
Outras espécies ameaçadas também têm se beneficiado das pontes, como o zogue-zogue-de-Alta-Floresta — uma das espécies de primatas mais ameaçadas do mundo — e o mico-de-Schneider, que é exclusivo da Amazônia mato-grossense.

Como funcionam as pontes
Cada ponte é formada por redes, cabos e passarelas específicas para primatas arborícolas, permitindo travessias elevadas, seguras e eficientes. A construção envolve a participação da comunidade local e segue princípios de engenharia sustentável.
Além das pontes, o programa inclui sinalização para travessia de fauna nas ruas, instalação de redutores de velocidade e trilhas educativas, promovendo a conscientização da população sobre a importância da preservação ambiental.
Em meio ao avanço do desmatamento, a travessia do macaco-aranha nas pontes artificiais de Alta Floresta representa uma conquista para a conservação urbana da fauna. O projeto demonstra que inovação, educação e cooperação institucional podem proteger a vida selvagem, mesmo diante de desafios ambientais.

Fotos: NZCBI / Sergio Leal