Onças-pintadas perdem territórios para soja, gado e queimadas, dizem especialistas

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Foto: Portal Pantanal Oficial

Em matéria publicada por BBC News, na imensidão do centro-oeste brasileiro, um território do tamanho da Inglaterra, antes abrigo de onças-pintadas e centenas de outras espécies, hoje está coberto por soja, gado e queimadas. As florestas nativas desapareceram em ritmo acelerado, e, com elas, os últimos refúgios do maior predador terrestre do Brasil.

Entre 2022 e 2023, autoridades ambientais identificaram que uma única fazenda de gado desmatou mil hectares de floresta nativa sem autorização no Mato Grosso, dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) Meandros do Araguaia. É como se mais de seis Parques do Ibirapuera tivessem sido derrubados. E esse é apenas um dos 477 crimes ambientais registrados na mesma unidade de conservação na última década, segundo dados do ICMBio.

Além das multas, o maior impacto muitas vezes fica invisível nos relatórios: a perda da biodiversidade. O território da APA é uma das áreas críticas para a preservação da onça-pintada, espécie considerada “quase ameaçada” de extinção. O desmatamento compromete o equilíbrio do ecossistema, afugenta as presas e empurra os grandes felinos para áreas de conflito com fazendeiros.

“Como são predadores de topo e o maior predador terrestre do nosso país, elas possuem um papel ecológico único”, explica Marcella Pônzio – coordenadora científica do Onçafari.

“Onças pintadas são organismos especialmente sensíveis à perda de habitat nativo, seja o desmatamento de florestas ou outros biomas brasileiros”, reforça João Vasconcellos de Almeida, diretor de conservação da mesma organização.

Levantamentos

Segundo as informações, entre 2014 e 2023, 89% da perda de vegetação no Mato Grosso e Pará aconteceu de forma ilegal. Mesmo com o Código Florestal exigindo a preservação de grandes áreas, a fiscalização não dá conta da expansão agropecuária.

“A destruição que vimos no Pará e em Mato Grosso não aconteceu por acaso. É resultado da fiscalização insuficiente de um sistema legal que, com frequência, permite que corporações poderosas fiquem impunes”, afirma Alexandria Reid, da ONG Global Witness.

A organização identificou que 27 milhões de hectares de vegetação nativa desapareceram do habitat das onças. Grande parte virou lavoura e pasto. A fazenda responsável por um dos desmatamentos mais expressivos, segundo relatório, teria sido fornecedora indireta da JBS, maior processadora de carne do mundo.

A transferência de gado criado em terras desmatadas para fazendas limpas é conhecido como lavagem de gado”, explica o relatório da Global Witness.

Mas a ameaça não é só o machado

Desmatar é apenas a “primeira etapa”. As florestas fragmentadas reduzem a quantidade de presas disponíveis, e as onças, famintas, acabam atacando o gado. Em resposta, muitos fazendeiros caçam os animais.

“É uma ameaça que vem em combo”, diz Fernando Tortato, da Panthera, organização internacional de conservação de felinos.

“Imagine uma cidade como São Paulo remover quase 2% de sua população todos os anos. É uma taxa absurda”, completa Tortato, ao citar estudo que estimou a morte ou deslocamento de 1,4 mil onças em três anos.

Existem mais de 2,7 mil unidades de conservação no Brasil, no entanto pesquisadores alertam que elas, isoladas, não garantem a sobrevivência da espécie. Pois a onça-pintada precisa de grandes áreas contínuas para viver, caçar e se reproduzire assim, garantir sua sobrevivência.

A maioria das grandes reservas no Brasil não mantém populações viáveis de onças-pintadas para garantir a sobrevivência da espécie a longo prazo”, aponta artigo publicado na revista Landscape Ecology.

Corredores ecológicos?

De acordo com a matéria publicada por Luiz Fernando da BBC News, existe uma estratégia de conectar áreas fragmentadas por meio de corredores ecológicos, como o que está em debate na bacia Araguaia-Tocantins. Assim, a proposta envolve cinco estados que podem recuperar mais de 900 mil hectares.

Estudos da USP mostram um projeto pode gerar R$ 100 bilhões em benefícios econômicos em 50 anos e até 38 mil empregos diretos, conciliando a restauração ambiental com atividades econômicas sustentáveis.

Em suas análises, a professora de economia da USP, Andrea Lucchesi, afirma:

“É preciso estabelecer um relacionamento de confiança, mostrando os benefícios para o meio ambiente e o clima. Mas também é fundamental apresentar argumentos financeiros sólidos. Não dá para simplesmente desapropriar milhares de propriedades rurais”

Para uma análise de estudo mais aprofundada, veja a matéria completa: BBC News Brasil 
Gráficos: por Caroline Souza

PORTAL PANTANAL OFICIAL

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